quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Momento aleatório



“To re-kindle an old flame, what harm would it cause, you ask?
Well, some new burns and a well-deserved scar, you’ll see.”

Ok, talvez não esteja bom. Vou colocar no tradutor e ver se ele me entrega uma versão melhor (ou mais correta, pelo menos). Vejamos o que saiu: bom, a mesma coisa. Esqueceram que tradutores traduzem, não corrigem?
Pois é, meus caros, dependemos demais das tecnologias...

Porém, de acordo com o corretor do Word (em inglês, em português, aquela sentença está sublinhada em vermelho), o poeminha ali está bom. Escrevi poeminha de propósito, Word, não enche, eu sei que está errado.

Por que você quer se comportar como se fosse minha professora de português? Obrigado por corrigir automaticamente o acento da palavra “português” e me lembrar de que automaticamente está errado se escrito com acento. E por me avisar que eu atropelei as letras na segunda vez que escrevi.
 
Voltei para dizer que os novos corretores não têm alma e também que eu ainda escrevo muito mal...

Lixo



Sabe, aquele que você joga fora.
Esse mesmo.
Empacotado, é.
Não, pode terminar de jogar fora, eu espero.
Terminou? Ótimo.
Senta ai, deixa eu te contar uma história.
Se é longa? Pô, nem sei. Eu não inventei ainda.

Risos ecoaram no ar, enquanto ele abria a janela da sala. Aquele que estava fechando a tampa de lixo virou-se e seguiu o caminho de concreto que levava até a porta. Era uma casa simples, tinha uns cômodos, uns quartos e um banheiro. Parecia uma caixa de sapato do lado de fora. E de dentro também.
Era branca, toda branca, dentro e fora. As portas eram de madeira, pintadas de madeira. Da cor que você preferir, porque os dois não ligavam.
Os dois estavam sentados no sofá agora. Ele estava seco, como sempre. O couro colava e logo logo estaria suado também. E seco, não mais.

Enquanto você recolhia toda aquela sujeira, eu estava lavando a louça.
Sim, aquela que estava na pia.
Porcelana? Não, não temos porcelana.
Era branco, sempre foi branco. Mas nunca foi porcelana.
Te enganaram? Como, se quem comprou fui eu?
Me enganaram? Não, acho que não. O preço era razoável.
Mas era isso que eu ia te contar? Não, claro que não.
Mas eu não inventei ainda, então pode ir fazer o que tem que fazer.

E então ele se levantou do sofá. Qual deles? Os dois, ora. Ou um só, não sei. Não deu tempo de ver, eu tenho outras coisas para fazer também, não posso só ficar narrando a história. Minha comida está no fogo cara, paciência. Não, na panela, que está no fogão, com uma chama embaixo. Pensou que eu carbonizava o que comia? Não, provável que nem dê para digerir algo assim.
E enquanto você me distraiu com essa conversa, o sol já havia nascido. Que horas? O que? Que o sol nasceu? Não sei, onde você mora? Não, eu ia dizer 6 da manhã, independente disso. Ah, você quer saber que horas são, são 16h17min agora. Não sabe o que é 16h17min? Significa 4 e 17 da tarde, ou 4:17PM, se você é de outro sistema de horas. Não, na história ainda é 6 da manhã. Você deveria parar de confundir as coisas.

E lá estava ele, esfregando o balcão.
Quem, você perguntou. Então, já que você me distraiu, eu não sei dizer quem é.
Se ele tem nome? Deve ter. Todo mundo tem nome, até quem não tem nome responde por um.
Como ele é? Não sei te dizer, está escuro aqui. Sim, aqui onde eu estou.
Não, ele está em um bar bem iluminado. Ele é o dono, está limpando o balcão.
Ele é um pouco estranho, porque é feito em volta de uma plataforma de madeira que parece um palco.
Então faz com que o cara que está limpando pareça maior. Não, o balcão não o cobre.
Se ele é muito alto? Não, é que a plataforma é baixa. Ela só está ali porque ele tem uma poltrona de couro reclinável lá. Ele não gosta daquelas de bar, que não tem encosto.
Ele já caiu muitas vezes, se é o que você ia perguntar. Se não for, entenda isso como um motivo.
Ele usa a cadeira para sentar, óbvio. Ele senta porque ficar em pé em um bar sem clientes é chato.

E o bar continuava vazio mesmo depois que ele limpou todos os móveis. Eram de madeira. Sim, ele gosta de madeira. Essas eram de carvalho, disso eu sei. Marrom escuro. Nunca viu um carvalho? Bom, nem eu. Mas uma vez quando fui comprar móveis eu vi uma com a mesma cor e soube que era de carvalho, então acho que como representação serve. Se a história existe mesmo? Claro que sim. O que acha que estou te contando?

Ela é confusa para aqueles que vão ler.
Por quê? Ah, simples.
É porque todos estão acostumados a ter alguém que lê a história para eles.
Ou porque eles lêem para si mesmos, mas só porque alguém se deu o trabalho de mostrar como.
O que a minha tem de diferente? Você não percebeu, né?
É porque aqui, você pensa que tem duas vozes. Dois personagens.
Bom, sim, tem duas vozes.
Uma sou eu. E a outra é a sua.
Sim, estou conversando com você.
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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Herois do cotidiano



... O trem chegou à estação às 10h.
As portas dos vagões se abriram e rios de pessoas escorreram por elas. Essa correnteza cheirava a suor e cansaço e a sua força estava mais em quantidade do que em vontade. Sozinhos, andariam devagar, pediriam licença um ao outro e seriam educados. Mas em conjunto, formam uma única massa zangada cujo objetivo é chegar o mais rápido possível em seus destinos, nem que precisem atropelar os outros. Não há idades nas estações. Não há gêneros nas estações. Não há classes nas estações. Se você quer saber o que é um mundo onde não há diferenças e todos são tratados com a mesma rigidez militar, vá à estação da Sé no horário de pico.

Mas estou escrevendo essa história para mostrar que no meio desse mar apressado há pequenas gotas de paciência. Ou de cortesia. Mas hoje vou relatar um ato heroico, que todos os presentes esqueceram porque ninguém vê as coisas por aqui. Os olhos que estavam focados nas portas do trem na estação da Luz não podiam parar e reparar no garoto de sete anos que estava perto do vão entre a plataforma e o vagão. As portas se abriram e todos começaram o ritual de distribuir cotoveladas em quem estivesse na frente. Mas o garoto não conhecia a tradição, e em sua posição desfavorável, foi deslocado carinhosamente para dentro da vala. Mas ainda havia esperança: ele estava suspenso pela sua mochila e, portanto, não estava debaixo das enormes rodas de ferro. Por um instante, um observador anônimo parou, pelo impacto da cena. Ele estava de longe, encostado nas paredes, por saber que quando o trem chega, é melhor se afastar e esperar. Havia abandonado seu lugar privilegiado, perto da porta, para dar espaço aos ansiosos e desesperados que não viam a hora de entrar e os que estavam tão cansados, que gastariam toda a energia necessária por um banco. Mas ele foi o único que viu o garoto preso, se debatendo, enquanto os outros ignoravam e passavam por cima. Até que ele, em um movimento rápido, puxou o garoto e o colocou para dentro do trem.

Ninguém contaria essa história, até porque quem quer assumir que é responsável por tal atrocidade, mesmo que passiva? Foi preciso coragem para escrever isso. Mas sabe quem foi o mais corajoso entre nós, que relatamos essas pequenas façanhas? Os heróis que estão nelas...

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Vácuo



Já estou longe.

Dias atrás eu só balançaria a cabeça e concordaria, é duro mesmo...
Mas hoje eu sei como é, de verdade.
Perdas, mesmo as insignificantes, doem muito.

Mas não é sobre isso que vim reclamar, não, não mesmo...


Falarei hoje sobre o isolamento.
O vácuo.
Estou me preparando para o evento, que vejo se realizando em breve.
O choque.
Todos sentirão.

Não chorem amigos, eu ainda serei eu.
Mesmo não tendo ideia de quem fui até agora.



Texto baseado em fatos recentes.
Fiquem ligados, em breve trarei um texto melhor (alguns estavam no meu celular, que eu perdi...).

(Sem imagens hoje porque é um texto sério...)

sábado, 10 de janeiro de 2015

Funeral ácido




Estes são os olhos de uma jovem garota, que mal saiu do ensino médio.
Seu nome é Alice Trenton, e ela esteve em uma longa, longa viagem.
Mas ao contrário da fictícia Alice no País das Maravilhas,
essa Alice nunca viu o gato de Cheshire, o Chapeleiro Maluco ou a Rainha de Copas.

Essa Alice viajou pelas escuras e intermináveis cavernas da Terra do Ácido.

O lugar, para ela, não é um conto de fadas…” - Acid Funeral, Belzebong (traduzido).



Um som surge ao fundo. Seus passos já não fazem mais barulho.
Adentrando uma escura caverna, você já não se diferencia das rochas ao seu redor.

Seu coração acelera, você sente medo, alegria e prazer ao mesmo tempo.
Vozes sussurram no seu ouvido coisas que você nunca tinha pensado em cores que você nunca tinha visto.
As paredes mudam de forma devagar, com constância, e nada fica no lugar.
Você está assustado, percebendo que não há mais saída. Está preso.

Mas o seu corpo já não sente mais dor, nem cansaço. Você se sente firme, sólido. E pesado.
Como se seu corpo fosse uma escultura de gesso que teima em se mover. Isso te dá força. Você se sente seguro dentro da sua pele de pedra.


E então, uma fresta se abre. Você consegue observar o mundo lá fora, familiar, mas transformado. As árvores são galáxias, a grama e as folhas estão líquidas. Você se sente sujo e velho.

Com vontade de observar de perto, você se espreme pela abertura. Percebe que era maior do que pensava, enquanto passa por ela. Sente um estranho gosto na garganta. Era amargo. O amargo de um doce.

A grama partia como vidro enquanto você passava por ela e as cores que chegavam aos seus olhos conversavam com você. Te iludiam, te enganavam.
Você decide deitar e observar as estrelas. Elas estão por toda parte, piscando e acenando. Era uma árvore de natal sobre sua cabeça.
Você já não queria mais sair.

As nuvens, porém, começam a cobrir o seu sol. Tons de cinza começam a devorar lentamente toda a luz que estava a sua volta. Seu corpo dói, cansado. Sente que sua língua está cheia de vidro e areia.
Mas não há desespero, só contemplação.

Você acorda. De volta ao mundo real...


O texto acima foi inspirado pela música Acid Funeral, última do álbum Sonic Scapes & Weedy Grooves da banda Belzebong.

Bem vindos ao blog SSK - 73.